Nos últimos anos, o setor do lítio em Portugal tem sido destacado como um dos pilares para impulsionar o desenvolvimento económico e a transição energética do país. Com vastas reservas de lítio, Portugal tem potencial para se tornar um ator-chave na Europa, fornecendo este metal essencial para baterias e outras tecnologias. No entanto, a crescente presença da China no mercado global de lítio tem gerado preocupações sobre o futuro da indústria portuguesa e o seu impacto na soberania energética do país.
China domina o mercado global de lítio
A China tem-se afirmado como a maior potência mundial na produção e refinação de lítio, controlando grande parte da cadeia de fornecimento global. A sua posição dominante decorre de fortes políticas de apoio governamental e da alta procura interna, especialmente pela indústria de veículos elétricos. Empresas chinesas têm investido agressivamente em minas de lítio por todo o mundo, consolidando o seu poder no setor.
Portugal, por sua vez, tem assistido a um aumento do interesse chinês no seu lítio. Empresas do gigante asiático estão de olho em licenças de exploração no território português, levantando preocupações sobre o controlo estrangeiro dos recursos locais e a capacidade do país em beneficiar plenamente das suas reservas.
Portugal enfrenta obstáculos na exploração e processamento
Apesar das grandes reservas de lítio, Portugal enfrenta desafios significativos no desenvolvimento do seu setor. O país não possui, atualmente, infraestruturas industriais suficientes para processar o lítio extraído, obrigando a que este seja enviado para o estrangeiro, muitas vezes para a China, para ser refinado. Este processo não só reduz o valor económico retido em Portugal, como também aumenta a dependência externa.
Especialistas da indústria destacam que, sem um desenvolvimento interno da cadeia de valor do lítio, Portugal corre o risco de ver os seus recursos controlados por potências estrangeiras, com a China à cabeça. Isto pode comprometer a capacidade do país em usar este recurso para fortalecer a sua independência energética e apoiar a transição para energias limpas.
Preocupações ambientais e sociais nas regiões mineiras
Nas regiões de Portugal onde se localizam os depósitos de lítio, como Trás-os-Montes e Beiras, as comunidades locais têm manifestado preocupações quanto ao impacto da mineração no ambiente e nas suas vidas. A entrada de empresas estrangeiras, muitas delas ligadas à China, tem aumentado o receio de que o desenvolvimento do setor se faça às custas das populações e do meio ambiente, sem trazer benefícios significativos para as regiões afetadas.
Grupos ativistas e locais defendem que qualquer exploração de lítio deve ser feita de forma sustentável e com garantias de retorno para as comunidades locais. No entanto, a pressão de grandes empresas, em especial estrangeiras, tem dificultado o equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a proteção ambiental.
Futuro incerto para o lítio em Portugal
O governo português tem declarado publicamente o seu compromisso com a promoção do setor do lítio, como parte da estratégia de descarbonização e transição energética. No entanto, a crescente influência da China no mercado global de lítio e a falta de infraestruturas locais para processar o mineral colocam Portugal numa posição vulnerável.
Há planos para a construção de uma unidade de processamento de lítio em Portugal, mas os progressos têm sido lentos. Enquanto isso, a União Europeia também tem pressionado os seus membros a reduzir a dependência de potências externas, como a China, para garantir o fornecimento de materiais críticos como o lítio. Contudo, sem ações concretas e mais investimentos, Portugal pode perder uma oportunidade crucial de desenvolver uma indústria de lítio robusta e independente.
O setor do lítio em Portugal enfrenta um desafio complexo: como explorar e beneficiar das suas reservas enquanto lida com a crescente pressão de potências estrangeiras, como a China. A criação de uma cadeia de valor interna, que permita ao país processar e agregar valor ao lítio extraído, é fundamental para assegurar que Portugal não se torne excessivamente dependente de mercados externos.
Para garantir que o lítio se torne um motor de desenvolvimento sustentável, o governo e as empresas portuguesas precisam agir rapidamente. Investir em infraestruturas, garantir a proteção ambiental e proteger os interesses nacionais contra a influência externa serão os principais desafios para assegurar o futuro do lítio em Portugal.