Moçambique encontra-se em estado de alerta após o assassinato de dois apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane, na noite de sexta-feira, 18 de outubro, em Maputo. Elvino Dias, advogado de Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do partido Podemos, foram mortos a tiro numa emboscada que abalou o cenário político do país, às vésperas do anúncio oficial dos resultados das eleições gerais de 9 de outubro.
O crime ocorreu por volta das 23h20 na avenida Joaquim Chissano, no centro da capital moçambicana. A polícia confirmou que a viatura em que seguiam foi alvo de uma emboscada e que um terceiro ocupante, uma mulher, ficou ferida e foi transportada ao Hospital Central de Maputo. Os disparos resultaram nas mortes imediatas de Elvino Dias, conhecido defensor de direitos humanos no país, e Paulo Guambe, representante do Podemos, partido que apoia a candidatura de Mondlane à presidência. O caso gerou uma onda de indignação e protestos.
Mondlane convoca marchas pacíficas e responsabiliza FDS
No sábado, durante uma vigília no local do assassinato, Venâncio Mondlane fez declarações fortes, responsabilizando as Forças de Defesa e Segurança (FDS) pelo crime. Durante o discurso, Mondlane citou passagens bíblicas para expressar sua revolta e prometeu que o “sangue” das vítimas seria “vingado”.
“Tal e qual a palavra de Deus dizia que o sangue de Abel tinha de ser vingado, este sangue tem que ser vingado, e está nas vossas costas [FDS]. Fiquem a saber que vocês têm nas vossas costas o sangue destes jovens”, afirmou Mondlane, visivelmente emocionado. Ele anunciou que, na segunda-feira, 21 de outubro, serão realizadas marchas pacíficas em todo o país, como forma de protesto. Mondlane convocou a população a participar de uma greve no setor público e privado, e a levar para as ruas cartazes manifestando repúdio contra a violência e a falta de justiça.
A marcha principal está marcada para as 10h00 (hora local), saindo do local do crime, no centro de Maputo. Mondlane reiterou que o protesto será pacífico, mas alertou as autoridades para a possibilidade de represálias caso as forças de segurança tentem reprimir os manifestantes. “Se quiserem usar violência [polícia], podem usá-la, mas fiquem saber que depois da vossa violência há de vir algo extraordinariamente mais forte do que vocês todos”, declarou.
Polícia confirma emboscada, mas investigações ainda são incertas
A polícia moçambicana confirmou que o veículo em que seguiam Elvino Dias e Paulo Guambe foi alvo de uma emboscada, mas ainda não há informações claras sobre os responsáveis pelo crime. O porta-voz da polícia indicou que as investigações estão em curso, mas não forneceu detalhes sobre possíveis motivações ou suspeitos.
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Elvino Dias, além de advogado de Venâncio Mondlane, era um defensor conhecido de casos de direitos humanos em Moçambique e havia atuado em diversas causas sensíveis no país. Paulo Guambe, por sua vez, era o mandatário nacional do partido Podemos, que atualmente apoia a candidatura de Mondlane, após a rejeição da sua inscrição pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Cenário político tenso após eleições de 9 de outubro
O assassinato dos apoiantes de Mondlane ocorre num momento crítico em Moçambique, em meio às tensões eleitorais após as eleições gerais de 9 de outubro. Os resultados preliminares, que ainda estão a ser apurados oficialmente, indicam uma vitória para a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e para o seu candidato presidencial, Daniel Chapo, com mais de 60% dos votos. No entanto, Venâncio Mondlane tem contestado os resultados e promete recorrer ao Conselho Constitucional após a divulgação oficial dos mesmos, prevista para 24 de outubro.
Mondlane já havia anunciado anteriormente, em discurso na cidade da Beira, que recorrerá às atas e editais originais da votação para sustentar as suas alegações de fraude. As comissões distritais e provinciais já concluíram a contagem de votos, mas Mondlane e a sua equipa jurídica continuam a contestar o processo, alegando irregularidades.
Condenações internacionais
O assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe foi rapidamente condenado pela comunidade internacional. O governo português, a União Europeia e as representações diplomáticas dos Estados Unidos, Canadá, Noruega, Suíça e Reino Unido em Maputo emitiram comunicados repudiando os assassinatos e pedindo uma investigação célere e transparente. As embaixadas exigem que os responsáveis sejam levados à justiça e expressam preocupação com a escalada de violência no país, especialmente em um período eleitoral tão sensível.
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À medida que a data para a divulgação dos resultados oficiais das eleições se aproxima, Moçambique mantém-se num estado de tensão crescente, com a população aguardando os próximos desdobramentos políticos e judiciais.